Octávio Café, desde sua primeira xícara

Pandemia e o momento certo para a Recuperação
24/08/2020
Latam – Decolagem não autorizada
15/09/2020
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* Camila de Cássia Facio Serrano 

“Na véspera de nada ninguém me visitou. Olhei atento a estrada durante todo o dia, Mas ninguém vinha ou via, ninguém aqui chegou.”  (Á véspera – Fernando Pessoa)

Conhecida como um ícone da cidade de São Paulo, a Octávio Café iniciou sua história em 1890 quando os antecessores da família Quércia, ao virem da Itália ao Brasil em busca de trabalho e uma vida melhor, começaram trabalhando no cultivo de uma pequena plantação de café na cidade de Brodowski, no interior de São Paulo.  

Com ampla bagagem no cultivo de café, em 2007 Orestes Quércia construiu a simbólica cafeteria em homenagem a seu pai Octavio, nascendo, então, a Octávio Café, na emblemática Avenida Faria Lima, um dos pontos mais modernos e requintados na Capital Paulista, sendo considerada na época a maior cafeteria da América Latina.

Apesar de ser o único lugar do Brasil onde o café e o pão de queijo são mais caros que os vendidos nos aeroportos do país, tinha público eclético, muito frequentado por celebridades, executivos, profissionais das mais diversas áreas, estudantes, amigos, casais, solteiros e também aqueles apenas passavam para desfrutar de um bom momento com café.

Muito à frente de um simples café, cercado de grandes empresas e dos shoppings mais sofisticados da cidade, sua localização privilegiada em meio ao novo centro chique de negócios em São Paulo, era também sala de reuniões, local para entrevistas, ponto de encontro, locais para eventos, espaço de vernissage, enfim, um agradável business center.  

Após anos desde a primeira xícara de café, a Octávio Café não resistiu ao atual efeito do isolamento social e paralisação dos atendimentos em suas cafeterias físicas, em virtude da pandemia mundial causada pelos efeitos do COVID-19, tendo, então, anunciado o encerramento das suas operações das cafeterias da Avenida Faria Lima e do Shopping Cidade Jardim, com a consequente redução de suas atividades, mantendo apenas a cafeteria do Aeroporto de Viracopos em Campinas e a promessa de em breve realizar novas operações por delivery.

Nesse momento de grandes incertezas e forte abalo ocasionado pela crise sanitária e econômica que o país atravessa, assim como a Octávio Café, muitas empresas optam pela tomada de um plano de ação de diminuição das atividades, denominado de downsizing, que, traduzido para o português, significa enxugamento, como meio de reestruturação organizacional.

A princípio, o processo de downsizing pode parecer maléfico as atividades de uma empresa, por exigir em curto prazo, invariavelmente, demissões, redução de custos, fechamento de unidades, achatamento da estrutura etc., todavia, em longo prazo, esse replanejamento e, consequente, enxugamento, proporciona o crescimento sustentável da empresa, possibilitando que enfrente a atual crise, facilitando sua expansão e possibilitando que perpetue no mercado que atua, diminuindo custos, evitando novos prejuízos que poderiam inviabilizar as atividades neste momento.

O encerramento das atividades de um lugar tão simbólico em São Paulo certamente não deixará somente xícaras vazias, diversos impactos são e serão experimentados, mas em meio a tantas incertezas, acredita-se que seja um verdadeiro passo para seu RECOMEÇO, que o apagar das luzes na Faria Lima, possa ser um breve e bom café para despertar a mente.  

É o que se espera que aconteça com os novos planos anunciados pelo Octávio Café, que, apesar do sabor amargo vivido por todos nesse momento, ao longo de sua história construiu não somente em uma marca de um bom, aconchegante e receptivo café, mas um símbolo de encontros, desencontros, lugar certo para bons negócios, para uma boa prosa e poesia, marcadas nas doces lembranças vividas em sua cafeteria.

O fim das simbólicas cafeterias Octávio Café, marco da cidade de São Paulo, talvez marque o fim de uma era, em que os cafés ou os negócios duravam horas, eram pessoais, físicos, em espaços atraentes e ambientes luxuosos, e agora, com o novo normal dos webmeeting, dos cafés virtuais, mais do que a crise atual, talvez aqui esteja o real motivo do seu fim.

Camila de Cássia Facio Serrano é advogada formada pela Puc-Campinas, com MBA em Direito Empresarial pela FGV, com cursos de extensão em Matemática Financeira pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – USP e Negociação Estratégica pela FGV. Membro efetivo da Comissão de Estudos em Falência e Recuperação Judicial da OAB/Campinas, possui também experiência na área contenciosa e consultiva, relacionadas ao Direito Empresarial, Cível, Contratual, Societário, Bancário, Direito dos Negócios e Negociações, voltada à recuperação judicial, renegociação de passivo, reestruturação de empresas, recuperação de créditos, representando tanto a sociedade empresária Recuperanda, bem como credores, em todas as esferas judiciais.

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